Os dados foram fornecidos pela Acrepom (Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Outros Materiais Recicláveis), entidade que trabalha pela preservação ambiental e também com a segurança social dos catadores.
Segundo o associado Paulo Figueiredo da Silva, 65 anos, no mês passado ele recebeu R$ 340 pela coleta de materiais reciclados, 15% a menos na comparação com a média recebida mensalmente, de R$ 400. "Às vezes, recebo até um salário mínimo, mas nesses últimos meses está difícil.”
FALTA
Para muitos, R$ 50 pode não fazer diferença, mas para mim faz muita falta", afirma. Associado da Acrepom há seis anos, Silva trabalha das 6h30 às 17h40, de segunda a sábado. Por dia, recolhe em média cem quilos de material reciclado, a maioria papelão. "Minha sorte é não pagar aluguel", disse. Silva mora em uma casa mantida pela Acrepom, para associados que não têm moradia, no bairro Hilda Mandarino.
Na profissão há 15 anos, o catador de recicláveis, Antônio Marcos da Silva, 55, também está sentindo a queda no preço dos materiais. Sua renda, que chegava a R$ 1,2 mil mensal, hoje não ultrapassa R$ 600. Desse valor, R$ 250 são destinados ao pagamento do aluguel de um imóvel no Umuarama. Antônio trabalha das 6h às 22h, recolhendo principalmente papelão e plástico na área central do município.
RECUO
Por mês, o trabalho rende em média cinco toneladas de material reciclável. "Nem mesmo recolhendo mais materiais devido à abertura do comércio em horário diferenciado vou conseguir receber o mesmo valor de antes", calcula. O preço pago pelo papel que recolhe caiu de R$ 0,20 (quilo) para R$ 0,10, desde setembro. "Minha sorte é que vários lojistas colaboram comigo", disse. Ele recolhe materiais da área central do município. Por dia, transporta em média 200 quilos de material, que enchem um carrinho.
Carlos Alberto Moreno, 40, está recebendo ainda menos pelo quilo do papelão recolhido das ruas: R$ 0,05. A alegação do comprador, segundo ele, é de queda tradicional no final do ano, quando a produção recua. "Eles (compradores) nunca têm uma explicação correta. Sei que não é isso. No final do ano, os preços costumam cair, mas não tanto quanto agora", afirma.
RENDA
Na coleta de materiais recicláveis há quatro anos, Moreno afirma que ganhava em média entre R$ 500 e R$ 600 mensais. No último mês, os produtos renderam R$ 200. Para completar a renda da família, composta de seis pessoas, sendo apenas dois trabalhadores - ele e o genro - Moreno atua na construção civil, como pintor. "Ainda bem que tenho esse outro bico, senão estaria passando fome", disse.
Queda se intensificou em setembro
Catadores e entidades afirmam que é normal a queda no preço dos produtos reciclados nesta época do ano. No entanto, o recuo nos preços dos materiais nos últimos três meses já ultrapassa a normalidade.
Dados da Acrepom mostram a desvalorização no preço dos materiais recicláveis desde setembro. A maior queda foi no quilo das garrafas pet óleo, que caiu de R$ 0,40 para R$ 0,08 (queda de 400%). O quilo do ferro, que era comprado por R$ 0,20, vale hoje R$ 0,05, diferença de 75%. Os papéis mistos (coloridos e jornais) caíram de R$ 0,15 para R$ 0,06 (quilo), recuo de 60%. O quilo do papel branco teve queda de 40%, saindo dos R$ 0,30 para os atuais R$ 0,18. As embalagens Tetra Pak estão valendo pelo menos 33% a menos no mercado. Em setembro, o produto era comercializado por R$ 0,12, hoje está R$ 0,08. O alumínio caiu de R$ 3,50 para R$ 2,50, no período (29%). As garrafas pet também estão com os preços lá embaixo. O quilo que antes custava R$ 1,05 sai agora por R$ 0,80, redução de 24%.
De acordo com a recepcionista Lucilene Borges, da Acrepom, a maioria dos catadores da entidade não conseguiu atingir o ganho mensal, que varia entre R$ 415 e R$ 500. "Tem associado que conseguia receber até R$ 700 por mês, o que não aconteceu em novembro, mesmo recolhendo o mesmo volume de materiais", afirmou. Devido aos baixos preços, a Acrepom suspendeu a compra de materiais de terceiros, remunerando apenas produtos recolhidos pelos associados, além de aceitar doações.
Os papéis recolhidos pela Acrepom são vendidos para uma empresa de Birigüi e os demais produtos são comercializados com empresas de Araçatuba. A.G.
Crise financeira agrava cenário
A crise financeira internacional não afetou diretamente os preços dos materiais reciclados, mas contribui para jogar os preços ainda mais para baixo. Com o recuo da produção das indústrias, a compra desse tipo de material também diminuiu. No entanto, o principal motivo é o excesso de produto no mercado.
Segundo o empresário Dailton Fernandes Braz, proprietário de uma empresa atacadista de papéis de Birigüi, o preço do papelão, por exemplo, está em queda desde outubro do ano passado. "Em 2007, houve falta de produto no mercado e algumas empresas importaram materiais. Quando toda a importação chegou começou a ter sobra", explica.
A queda nos preços atingiu toda a cadeia, desde os catadores até os atacadistas que vendem diretamente para as indústrias, e foi mais acentuada nos últimos três meses. No final do primeiro semestre de 2007, o papelão ondulado era comercializado com as indústrias entre R$ 500 e R$ 550 a tonelada. Hoje, depois da queda brusca, está entre R$ 200 e R$ 240, redução de 52% e 64%.
Além do preço baixo, as condições de pagamento foram esticadas. "Recebíamos dentro de 30 a 45 dias, hoje o prazo é de 70 a 90 dias", revela. É constante o pedido de prorrogação de duplicatas e a inadimplência está em alta.
A previsão é de uma melhora no final de 2009 e início de 2010. "Com os preços baixos, haverá um desestímulo para a coleta, já que a remuneração não é boa. Com isso, é bem provável uma falta de produto no mercado e um aumento nos preços", analisa. A empresa compra cerca de 400 toneladas por mês de papel e vende para indústrias de São Paulo, Paraná e Santa Catarina. A.G.
Fonte: Dep. Comunicação Uniciclar.

Nenhum comentário:
Postar um comentário